segunda-feira, 4 de maio de 2009

Entrevista: LUCAS LUCENA

1. E aí? Quem é o Lucas? Fale um pouco sobre você e como foi vir para a IPB de São Caetano.
R:
Oi, gente. O que posso começar falando sobre mim é que o Lucas é uma pessoa muito simples – me considero um cara humilde, sem frescuras, bem humorado e facinho de me adaptar às mais variadas situações. Sou bem desencanado e gosto de admirar as coisas singelas da vida.
Não sou de uma origem muito “citadina” – na verdade, fui criado na zona rural (do campo mesmo e também dos interiores desse país), onde o ritmo de vida é um pouco diferente – por exemplo, comecei a trabalhar bem cedo (aos 7 anos de idade, na roça – plantando milho e feijão), e daí por diante não parei mais – tendo tido várias e diversas experiências profissionais (tenho essa inclinação vocacional meio polivalente), entre elas, como militar (da Polícia e da Marinha), bombeiro hidráulico, radialista, vendedor, cabeleireiro, empresário e professor. Nesse último quesito foi que fiquei mais tempo, pois sempre gostei muito de estudos em geral. Bom, e ter conhecido a IPB de São Caetano teve a ver com isso, pois quando estive aqui pela 1ª vez eu estava justamente numa escola (Escola de Ministério de Música e Evangelismo – EMME), trabalhando voluntariamente – à época eu era o diretor de evangelismo do Grupo (e também instrutor da parte de Teatro). E foi quando eu conheci a Lilian, minha esposa (o mais lindo presente que Deus me deu neste mundo). Daí para me tornar membro desta amada igreja foi um “pulinho” – não apenas a Lilinha me “fisgou”, mas o carinho que percebi de todos aqui me conquistou.

2. Quando e como foi a sua conversão para Jesus?
R:
Uma parte dura de lembrar (mas que, infelizmente, foi real) deu-se entre os meus 17 e 20 anos, quando tive um considerável esfriamento na fé. E sempre que (depois disso) tenho trabalhado com jovens (sobretudo os que também nasceram em “berços cristãos”), dou uma ênfase muito grande no sentido de os auxiliar a vencerem esta fase complicada (e não precisarem “pular nesse abismo” em que rolei pra saberem que é uma “furada” – que só há feridas nessa queda); e que o mundo só oferece ilusão.
Mas quanto a ter recebido a Jesus (e saber que eu era dEle) realmente foi uma experiência bem anterior. De fato estou ciente de que não é uma unanimidade ter “um dia”, em especial, que se recordar de uma experiência de conversão. Mas comigo houve essa data, da qual lembro até de vários detalhes, apesar de eu ter apenas 7 anos então: Aconteceu num culto de meio de semana, numa pequena congregação do interior de Minas, em que uma mensagem evangelística foi pregada naquela noite e algo em meu interior respondeu de forma muito espontânea (como uma criança, que era, aliás) ao convite irresistível da graça de Deus. Alguns anos mais tarde fiz a minha pública profissão de fé (e também tive essa experiência de precisar reforçar o compromisso posteriormente outra vez – me reconciliar, depois dos 20 – por causa desse “hiato” que citei no início), mas sempre procurei estar ao máximo envolvido com as coisas de Deus e da Igreja.

3. Fale um pouco sobre a sua experiência no Grupo EMME e como isso repercutiu na escolha do ministério.
R:
O que me atraiu a fazer parte do Grupo EMME foi que ele associava duas paixões minhas: Evangelismo e Música (necessariamente nesta ordem). Entrei com 22 anos (e estive envolvido nesse ministério durante 6 anos – 4 dos quais, integralmente). Por ser um grupo interdenominacional (minha família é de origem presbiteriana, apesar de na época eu estar cooperando em uma igreja batista) eu sempre tive essa facilidade para desenvolver uma visão de Reino mais ampla. A experiência na EMME foi muito rica nesse sentido – de abrir horizontes. Poder falar de Jesus tão abertamente, transmitir a Mensagem da Cruz de uma maneira estrategicamente bem relevante e ver pessoas se rendendo aos pés de Jesus não tem preço que pague!.. Porém, a questão do Chamado mesmo eu creio ser bastante anterior (desde a eternidade passada – rsrs), mas realmente confesso que boa parte da minha vida eu me encontrei fugindo dele (considerava uma responsabilidade grande demais...). E acho até que a experiência na EMME mais me “desencantou” em muitos aspectos (com relação à expectativa meio “romantizada” que há da Obra) e não repercutiu muito favoravelmente, a bem da verdade, na escolha do ministério.

4. Como e quando foi seu chamado parar se tornar missionário? Há algum campo para o qual se sente chamado por Deus?
R:
Eu participei, sim, de uma Conferência Missionária quando tinha 12 anos (entre muitas que participei – nossa igreja era bem engajada em Missões, em todos os níveis: urbanas, nacionais, transculturais, evangelismo a partir do próprio bairro, etc... Não se tinha que “optar” por preterir uma coisa à outra) em que entendi (um “lampejo”) de que a ordem (não um apelo, ou “convite”) deveria ser cumprida por mim também. Até então eu me escondia atrás de uma falsa-timidez (que me era “conveniente” – ou “confortável”) para não compartilhar de Cristo na escola, vizinhança, trabalho etc. E esse evento mudou as coisas nesse sentido. Um santo “incômodo” passou a me tocar.
Houve também uma outra experiência forte, marcante e decisiva – mas creio que posso melhor encaixá-la na próxima resposta (a 5ª). Já quanto a campo, eu oro (particularmente – falo apenas em meu nome) pela Ásia. Entendo um mover de Deus e uma inclinação para isso. O que o Senhor tem feito na Ásia nos nossos dias é uma obra tremenda – orar nessa direção não é nada mais do que nos sintonizar com a soberana vontade dEle. Agora, se é que participar disso presencialmente vai além do meu desejo pessoal, há outras implicações na questão. De modo que tenho feito duas colocações, principalmente, no tocante a isso: Nós acreditamos no princípio bíblico de autoridade, e, em primeiro lugar, isto envolve a agência missionária a que estamos nos filiando (a APMT), e a orientação que temos recebido de priorizar a América Latina no nosso projeto familiar ministerial a médio prazo – ao que decidimos acatar. Em segundo lugar, também decidimos não ir a lugar nenhum sem sermos expressamente enviados (e não apenas decidirmos ir) pela nossa igreja e com a sua bênção. Para nós, nisso também estará sendo confirmado o que e o onde. E da nossa parte, continuamos a orar e nos preparar.

5. Das experiências que você teve como missionário, há alguma que tenha te marcado mais? Qual e por que te marcou?
R:
Um detalhe importante que creio que valha a pena ressaltar tem sido uma orientação que temos recebido por parte dos nossos pastores (do Rev. Neuci já há algum tempo – que ainda é o meu tutor eclesiástico – e também do Rev. Evandro mais recentemente) de evitarmos receber e aceitar a designação de “missionários” até que completemos o curso do Seminário e sejamos efetivamente enviados para algum campo transcultural. Não é tão-somente uma questão técnica – nisso entendemos também um cuidado e zelo por nós (por parte da nossa liderança), por conta de um histórico frustrante que por algum motivo outras pessoas já infligiram à nossa igreja – de não venha a existir desnecessariamente uma “identificação” com algo que poderia ser prejudicial.
Porém, num sentido mais abrangente, sabemos que para qualquer obreiro algumas experiências nos emocionam mais do que outras (como acompanhar o “parto espiritual” de alguém que nasce de novo em Cristo – não há nada que seja comparável!), mas essas experiências são muitas para numerarmos (ou privilegiarmos a citação de alguma). No entanto, houve outro fato (ainda no campo pessoal – da nossa Vocação) que reluto a não atribuir algum adjetivo próximo de “milagre” – outra experiência que também tenho como decisiva, para mim: Foi quando ao sair do Grupo EMME (e começar a namorar a Lilian) estava determinado a tentar vestibular para Medicina – e combinei com a Lilian de orarmos no sentido de que se eu passasse (tenho ouvido, muitas vezes – infelizmente – de orações no contrário: “Se nada der certo, vou ser pastor...”) consideraria a hipótese de nos rendermos às Missões. Então, aconteceu que eu prestei concurso para uma Universidade Federal e outra Estadual e passei nas duas. Foi justamente quando começaram a ocorrer outros fatores e fatos (experiências bem pessoais) e, entendemos de uma maneira misteriosa (espiritual), convicta e definitivamente (nisso o sobrenatural), de direcionar nossas vidas exclusivamente para o Ministério a partir dali e nunca mais olhar para trás – não questionar mais nada com relação a isso. Foi uma definição conjunta (que eu e a Lilian tomamos antes de irmos para a Jocum) e marcou demais pelo fato de o Senhor nos ter honrado (não significa poupar-nos de lutas – e louvado seja Deus também por isso!) e confirmado tudo em cada detalhe.

6. Com certeza vc teve que abrir mão de alguns sonhos e projetos na sua vida para seguir trabalhando em missões. Qual seu sentimento hoje em relação a isto?
R:
Graças a Deus, tudo foi o mais resolvido que poderia ter sido. Nesse aspecto, eu creio que estou no melhor lugar do mundo – no centro da vontade de Deus, debaixo da sua soberana providência e desígnios. A transformação da minha mente nessa direção é que me leva a conhecer e experienciar qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12.2). Tem gente que sacrifica muito mais coisas por carreiras seculares, profissionais, esportivas, políticas, ideológicas – ou ainda se entregam de “corpo e alma” a banalidades, vaidades, caprichos, gostos e “fixações” vãs – aos olhos de Deus (isso para não citarmos itens que, inegavelmente, têm conotação de impiedade, como, por exemplo, as cobiças, embaraços e práticas de injustiça); tudo para alcançar seus “sonhos e projetos”.
Então, o sentimento que eu tenho é de gratidão, pois sei que por mim mesmo não sou nem digno nem capaz (se eu fosse Deus eu não teria escolhido o Lucas...); tudo vem dEle: Da escolha à capacitação. Mas ainda, por outro lado, as “compensações” em campos, casas, famílias ou tudo o que nos é mais caro, veem em proporção centuplicada ainda neste mundo (mesmo que com provações e perseguições), fora a promessa do porvir eterno (Mc 19.29,30). Missões pressupõe, sim, uma dose extra de desapego, resignação, destemor e desprendimento, mas não consigo ver o ministério como um “fardo”. É uma responsabilidade sublime – mas também um privilégio.

7. Que recado você deixa para os jovens e leitores deste blog?
R:
Envolva-se mais e mais com Jesus – Ele deseja mais que um relacionamento formal; deseja uma amizade confidencial, de cumplicidade plena – incondicional e de coração inteiro.
E é importante sempre lembrarmos que Ele nos chamou para a santificação; portanto, não podemos transigir com a mediocridade. O fato de que Ele não desiste de você é uma verdade soberba e sobejamente estabelecida, mas a contrapartida é que isso requer de nós uma resposta digna. De fato, uma ótima pergunta que pode ser feita é: Como não apaixonar-se por Aquele que te amou primeiro, desceu lá de uma glória simplesmente INDESCRITÍVEL (inimaginável para nossa compreensão tão limitada!) e Se doou – Se entregou por completo! O equacionamento da questão é que nossa vida não tem um fim em nós mesmos. Só Deus pode fazer verdadeira diferença. Se Jesus não for o primeiro, na prática mesmo – em todos os aspectos, em todos os sentidos – então, tudo fica destituído do genuíno significado que realmente só Ele pode imprimir. E nossa esperança e ao mesmo tempo exortação mútua constante deve firmar-se na convicção de nossa vocação é radical – em Cristo, não existe “meio-termo”, pois Ele mesmo disse: “Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (Mt 12.30).
Mas gostaria de terminar com um pensamento do Rev. Martin Luther King, que cunhou uma célebre frase – ainda que tida como parola non grata, por não perfazer muito o estilo ocidental (estilo este que evita a temática da “morte” e as relevantes reflexões a ela inerentes – ao mesmo tempo que a banaliza nas “filosofias” dos seus filmes sanguinários), mas creio que nos traga aplicações muitíssimo maiores a nós, que temos a mente de Cristo e somos convocados para um engajamento total: "Se um homem não descobriu algo pelo qual valha morrer, também não está preparado para viver". Muito forte, né? Um beijo a todos.

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